sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Amanhã é sempre um novo dia


A GENTE TEM QUE CONTINUAR...



A gente tem que continuar mesmo depois que o arroz queima, a água seca, o vinho entorna. A gente continua depois de descobrir que os defeitos pioram com a idade e as qualidades viram hábito no dia a dia. A gente tem que continuar depois do luto, da partida, da despedida. das horas frias, do caminho incerto. A gente continua e aprende a cantar "apesar de você, amanhã há de ser outro dia..." para o amor que não deu certo, para as falhas recorrentes. para nós mesmos que nem sempre somos aqueles que gostaríamos de ser. Apesar de nós mesmos, de nossas fissuras e desencantos.


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Algumas séries me fisgam pelas beiradas. São frases, ditas no meio de um episódio, que me levam a refletir os últimos acontecimentos de minha vida, e de repente estou apaixonada pelas personagens, feito a Teresa, de "Três Teresas", na noite de ontem. Lá pelas tantas, a frase: "O mundo da gente começa a morrer antes da gente... e a gente tem que continuar..." _ Pronto. Foi a deixa para meu pensamento voar, entender alguns desencaixes, suportar certas partidas, colocar algumas peças no lugar.

A gente tem que continuar mesmo depois que o arroz queima, a água seca, o vinho entorna. A gente continua depois de descobrir que os defeitos pioram com a idade e as qualidades viram hábito no dia a dia. A gente tem que continuar depois do luto, da partida, da despedida. das horas frias, do caminho incerto. A gente continua e aprende a cantar "apesar de você, amanhã há de ser outro dia..." para o amor que não deu certo, para as falhas recorrentes. para nós mesmos que nem sempre somos aqueles que gostaríamos de ser. Apesar de nós mesmos, de nossas fissuras e desencantos, a gente tem que continuar...

E aprendemos que ter que continuar é muito mais que traçar um caminho que justifique nossa esperança por dias melhores. É saber deixar pra trás com sabedoria, entendendo que a vida é constituída de muitas histórias, e que finalizar um capítulo não significa dar fim ao que somos.
O mundo da gente começa a morrer antes da gente, e aceitar nossa responsabilidade em deixar o mundo se modificar, se despedir ou se transformar requer coragem. Coragem de romper com modelos antigos do que fomos e assumir com maturidade novas versões _ muitas vezes melhores _ de nós mesmos.

De vez em quando nos habituamos a antigos nós. Preferimos a dificuldade do que é conhecido à facilidade de novos e perfeitos voos. Desdenhamos a felicidade como quem se empenha em ser infeliz e construímos muros a nos proteger da vida que chega trazendo ares de esperança e novidade. Preferimos nos refugiar no que é conhecido, e nem sempre melhor.

Muita esperança chega junto ao fim de ano e a promessa de novos dias, limpinhos, pra gente escrever a história da melhor maneira que puder. Talvez precisemos aprender a aceitar as novas realidades que inevitavelmente ocorrerão. Haverá a mãe que terá que se adaptar ao fim da licença maternidade, a adolescente que verá seu namoro ruir, o homem que receberá o pedido de divórcio numa manhã aparentemente comum, a senhorinha que vai enviuvar, os pais que levarão seu menino ao aeroporto para fazer intercâmbio, a menina que verá o fim da infância num teste de gravidez, a decepção do jovem, o casamento da moça dos sonhos, o ninho vazio, as novas dores da maturidade, a traição, o recomeço, a renegociação com a vida.

Talvez seja isso. Aprender a renegociar com a vida, descobrindo que novas portas estão sendo abertas, mesmo que haja a tendência de nos fixarmos em cadeados fechados. O mundo da gente começa a morrer antes da gente, mas o futuro também guarda boas surpresas, e o que se pode chamar de "nosso mundo" não existe só no passado, mas na realidade que construímos diariamente e somente nós podemos lapidar.

A gente tem que continuar. Que 2015 traga o reconhecimento de nossos presentes, dádivas reais que permanecem além da morte de nosso mundo ou de um tempo. O que ninguém nos tira: a capacidade de nos recriarmos em qualquer tempo. A alegria de nos percebermos resistindo, apesar de tudo. A satisfação de percebermos nossa coragem. E finalmente, a paz de nos aceitarmos por inteiro.


Minha reflexão para o dia de hoje



Desculpem a ausência aqui.

POUCOS MERECEM VER NOSSAS LÁGRIMAS

"Ninguém merece as tuas lágrimas, mas quem quer que as mereça não te vai fazer chorar". (Gabriel Garcia Marquez).

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Um dos melhores conselhos que nossos pais nos transmitem, quando somos pequenos, e que deveríamos carregar pelo resto de nossas vidas é: “engole esse choro!”. Embora, na época, eles pudessem visar a outros objetivos, em contextos específicos, ao nos mandar parar de chorar, mesmo assim já estavam nos preparando para que nos tornássemos pessoas mais fortes, seguras, capazes de enfrentar as rasteiras que a vida não cansaria de nos dar desde então, sem sucumbirmos às frustrações e perdas, sem nos tornarmos vulneráveis diante de quem está à espreita, esperando para usar nossas fraquezas contra nós e em proveito próprio.

Somos humanos, sim, e sensíveis, suscetíveis a momentos de fraqueza emocional e tristeza, melancolia. Chorar é preciso, pois as lágrimas recobram as energias, minimizam o mal estar, aliviam o sufoco, limpam as impurezas da alma, desafogam o coração. Mas, ao mesmo tempo, as lágrimas expõem nosso lado mais vulnerável, nossa tão característica carência humana, e por isso mesmo podem ser vistas como fraqueza por quem, naquele momento, não quer - nem nunca será capaz de - ajudar ou, pior ainda, por quem usará aquilo contra nós mesmos, oportunamente. Então, dependendo de onde e com quem estiver, engole esse choro!

Ao ouvir “eu não te amo mais”, "estou partindo", enquanto o outro arruma as malas para sair de casa. Nesse momento, ele já decidiu viver a própria vida longe de nós, já decidiu que tudo o que oferecíamos não bastava, não foi suficiente. Provavelmente já encontrou quem aparentemente ofereça o que ele esteja querendo e está forte o suficiente, visto ter tomado uma decisão. Assim, nossa fraqueza, se exposta, somente irá aumentar, enquanto o outro se fortalece ainda mais, bem ali na nossa frente. Engole esse choro!

Quando o chefe, um colega de trabalho ou um cliente elevam a voz, são deseducados, ríspidos e aparentemente injustos. Às vezes explodimos mesmo, justamente com quem não merece, além de existirem pessoas que não sabem agir de outra forma que não esbravejando indelicadamente, pois parecem desconhecer mínimas regras de convivência. Por serem incapazes de se colocar no lugar do outro, não entenderão nossos sentimentos, tampouco mudarão seu jeito de ser. Poderemos nos colocar no momento certo e deixar claro que aquela atitude nos desagrada, demonstrando firmeza - sempre com ar seguro, nunca com voz trêmula, jamais diminuídos em nossa dignidade. Engole esse choro!

Se for surpreendido por uma atitude que nunca esperaria do amigo em quem tanto confiava, sentindo-se traído, exposto, aquebrantado, humilhado. Você foi iludido e usado, mas não foi ingenuidade sua e sim antiética alheia. Distancie-se, o mais longe possível; por mais que doa ter que tirar de nossas vidas alguém de quem tanto gostávamos, é necessário fazê-lo, sem hesitação, sem titubear - sofrer, só se bem longe dele. Engole esse choro!

Escutando o que jamais esperava dos filhos, decepcionando-se com as atitudes e comportamento deles, percebendo que não parecem se sentir bem perto de você. No calor das emoções, eles dizem que nos odeiam, que somos os piores pais do mundo. Irão, em certo momento, se envergonhar de nós na frente dos amigos, irão querer que não apareçamos em seus quartos e não compartilharão nada de suas vidas conosco. Tudo isso passará e retornarão ao nosso abraço que tanto os conforta, desde pequeninos. Porque já fomos e sempre seremos seu porto-seguro, o alento revigorante quando precisarem - não esmoreçamos. Engole esse choro!

Enquanto segura as mãos de quem ama e está doente, sofrendo dores, passando por tempestades da alma, enfrentando algum revés aparentemente sem solução. Quem sofre quer nada mais do que alguém que o entenda e mantenha-se forte, porque as próprias forças esvaíram-se e a segurança alheia então é tudo a que se pode agarrar, para não ruir definitivamente por dentro. Mantenhamos as mãos firmes, as palavras serenas e os olhos secos, mas cheios de esperança. Engole esse choro!

No momento em que se despede do filho que vai procurar o seu próprio lugar no mundo. É preciso deixá-los ir, aconselhando-os a não olhar para trás, a não titubear. Todo mundo merece se encontrar a seu jeito, experimentando novos lugares, novas companhias, novos amores. É preciso ajudar a fazer as as malas e a abrir as perspectivas de vida dos filhos, incentivando-os ao descobrimento de si mesmos, não importa se do outro lado do globo. Temos que acenar firmes e altivos durante a despedida, pois é disso que eles precisarão enquanto se desprendem da zona de conforto tão nociva ao aprimorar-se contínuo a que todos temos direito. Engole esse choro!


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Ao contrário do que possa parecer, não se trata, aqui, de se tornar insensível, de endurecer o coração, tampouco de abafar ou enganar os próprios sentimentos. Somos sujeitos a momentos de tristeza e escuridão, em que as lágrimas são sempre bem vindas. No entanto, poucos merecem partilhá-las e nos verem perdidos em nossas fraquezas, pois em nada ajudarão, nem ao menos tentarão nos estender as mãos. Ninguém merece desnudar-se física e emocionalmente em frente a quem não se entregará de volta verdadeiramente. Ninguém haverá de ser menosprezado enquanto junta seus cacos emocionais. Da mesma forma, ninguém haverá de receber lágrimas quando estiver pedindo força e motivação. Portanto, tranque as portas e feche as janelas antes de chorar.

Sempre será necessário cair ao chão de nossas tristezas e fracassos, gritar a revolta da incompreensão e maldade alheias, encarar as colheitas de nossas escolhas equivocadas, atravessar a escuridão da saudade por quem não mais voltará. Mas é preciso que quem esteja ao nosso lado, nesses momentos, mostre-se sinceramente disposto a nos resgatar de volta com vida e fortalecidos. Alguém que conhece e tem certeza de que somos muito mais do que pensamos ser, que venha correndo quando precisarmos e não saia de nosso lado enquanto não secarem nossas lágrimas. São poucos os que merecem assistir ao nosso pranto, sem fazer mau uso disso tudo. Ademais, no fim da vida, muito provavelmente estaremos contando somente com nós mesmos e então saberemos lidar com nossas dores sem precisar de ninguém mais. Enfim, lembremos sempre aquele conselho ouvido em nossa infância, porque, em certos lugares e diante de certas pessoas, ou engolimos o choro, ou o mundo nos engole.

MARCEL CAMARGO

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar".